quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A VITORIA DE GIDEÃO





ESTA POSTAGEM FOI FEITA PELO PROPREO LEONARDO ASIM COMO DOTAS AS OUTRAS POSTAGEMS                                                                                                                                                            Texto: Juízes cap. 6 e 7
Para compreendermos o capítulo 7 do nosso texto faz-se necessário pontuar algumas nuances do capítulo 6. Portanto, gostaria de recuperar algumas lições que partilhei com a igreja há poucos dias atrás.
1. A vocação de Gideão se dá numa experiência teofânica e num contexto de opressão, posto que Israel estava há 7 anos debaixo do jugo dos midianitas. Deus fala a Gideão na sua história concreta, em meio às turbulências da vida! Entretanto, Gideão questiona a Deus a respeito do sofrimento do seu povo. Gideão coloca em xeque o envolvimento de Deus na história do seu povo, mas se esquece dos pecados de sua nação.
2. O Senhor é contigo homem valente! A saudação do mensageiro de Javé não era um elogio a Gideão, mas uma confrontação misturada com desafio. Gideão era a negação de sua própria identidade. Tinha nome de valente, mas agia como um medroso. Para enfrentar os midianitas ele precisava enfrentar a si mesmo.
3. Gideão estava malhando trigo no lugar onde deveriam ser espremidas as uvas. Isso era um artifício para esconder a produção agrícola da sua tribo, que constantemente era roubada pelos inimigos. Assim sendo, a saudação que fora direcionada a Gideão objetivava o nascimento de uma nova postura ante o sofrimento do seu povo.
Gideão não entende o porquê de tanto sofrimento se o Senhor era com ele. Para Gideão essa saudação era irônica, ilógica. Gideão começa a levantar alguns questionamentos com base na tradição do seu povo. Que Deus era esse que salvou o povo do Egito, mas não o salvava das garras dos midianitas? A tradição não encontrava respaldo com o seu momento histórico. Gideão colocara em xeque o envolvimento de Deus na história. E agora??? A resposta de Deus a Gideão foi: “Vai nesta tua força, e livra a Israel da mão dos  Midianitas; porventura não te envio eu?” O envolvimento de Deus na história se confirma quando eu me envolvo com ela.
4. Ao ser interpelado por Deus Gideão objeta. Como vimos, Gideão não concebia a presença de Deus em meio aos sofrimentos (PERIGO DE UMA LEITURA TRIUNFALISTA DA VIDA). Vejamos outros aspectos da objeção de Gideão: 1) Relacionada à força econômica. Ele era de família pobre. Como poderia ser usado por Deus para tão grande missão?! 2) Relacionada a sua incapacidade pessoal. Ele era o menor na casa de seus pais. Tinha uma imagem negativa de si mesmo.
A grande discussão aqui é sobre a força. Gideão salienta que não é forte nem economicamente, nem pessoalmente. Como vencerá seus inimigos? A antítese a esta declaração de Gideão é a promessa do próprio Deus: “Eu serei contigo”. O pressuposto fundamental para a vitória em meio aos sofrimentos da vida é a presença de Deus. A PRESENÇA DE DEUS É O BASTANTE QUANDO NOS FALTAM OS ELEMENTOS APARENTEMENTE INDISPENSÁVEIS.
5. Gideão ainda está inquieto, cheio de dúvidas. Para ele, o desafio apresentado por Deus é grande demais. A inquietação de Gideão revela a nossa estrutura. Deste modo, Gideão pede alguns sinais. O primeiro sinal era a aceitação do seu presente, da sua oferta… Deus aceita a oferta e diz: Paz seja contigo! Gideão teria um exercito para enfrentar. A guerra por fora estava prestes a se iniciar, mas por dentro a paz de Deus estava reinando.
Depois destas observações preliminares, passo a fazer algumas considerações a partir do capítulo 7.
Os israelitas se acamparam em Harode. O nome desta fonte é muito sugestivo. Harode significa “temor”. Todavia, mais do que armar tendas em Harode; Harode estava acampado neles. Muitas vezes Deus nos conduz para as nossas zonas de temores para que vençamos nossos medos mais profundos. Quem não encara os seus temores de frente, jamais poderá vencê-los. A experiência de Gideão e seu exército em Harode nos convida e desafia a discernir:
1. A participação ativamente estranha de Deus em nossa história.
O agir de Deus está mais para o inusitado do que para o previsível. Está mais para o misterioso do que para o desvendável. Está mais para o paradoxo do que para o linear.
No texto a ação estranha de Deus se estabelece a partir de uma ordem que contraria toda lógica das estratégias bélicas. Qualquer general de guerra condenaria o pedido de subtração feito por Deus. Entretanto, muitas vezes Deus precisa subtrair as nossas forças para adicionar em nós a necessidade de dependência d’Ele.
O apóstolo Paulo experimentou a suficiência do poder da graça de Deus em sua própria vida. A subtração de suas forças, ocasionado pelo espinho na carne que lhe fora dado, era um elemento necessário para que o poder da graça se efetivasse nele.
Em Sansão temos um exemplo diametralmente oposto. Sansão confiou na força que lhe fora dada por Deus e disto fez um estratagema para conseguir o amor de Dalila. Esqueceu que sua força vinha de Deus. Que seu poder estava intimamente ligado a uma vida de obediência e submissão ao Espírito do Senhor. A novela da vida de Sansão encerra de forma drástica: sem o Espírito do Senhor, Sansão se torna vitima dos seus opressores; morre de forma vergonhosa.
A nossa salvação decorre de uma estranheza. Quem nos salvou foi um crucificado. Fomos amados quando deveríamos ser odiados. Fomos perdoados quando deveríamos ser julgados. Fomos aceitos quando deveríamos ser excluídos.
A estranheza do agir de Deus está por toda a Bíblia. Precisamos nos familiarizar com ela. Precisamos tratar o nosso cansaço com a estranheza do descanso divino; precisamos tratar a nossa pressa com a estranheza da paciência divina; tratar as nossas indiferenças com a estranheza do amor; tratar os nossos ódios com a estranheza do perdão. Que Deus cure as certezas do nosso conhecimento, com as incertezas do seu jeito estranho de agir.
2. A presença poderosa de Deus é a instância que legitima a nossa força frente aos desafios da vida.
Está circunscrito no texto a discussão sobre o poder. Para Israel o poder consistia em uma afalange de 32 mil homens. O poder era o número, era a quantidade. Todavia, Deus reduz o exercito israelita para 300 homens. O Senhor relativiza o poder dos números.
Estamos numa sociedade que tenta nos numerificar. Na sociedade do consumo e do capital nossa identidade se reduz a números. Somos RG, CPF, Senhas… A maldição dos números alcançou também a igreja, que mede a sua capacidade pela quantidade de membros que possui ou pela arrecadação mensal. Tomemos cuidado: O bezerro de ouro que tem seduzido a igreja hodierna tem a forma de números.
Na narrativa da multiplicação dos pães (Jo. 6:1-15), temos a discussão sobre a mística da partilha. Para os discípulos a solução do problema da fome da multidão consistia em despedi-la. O que fazer? No texto, aparece uma criança que carregava em sua bolsa um lanche: cinco pães e dois peixes. André, um dos discípulos, cujo nome significa humano, é quem leva a Jesus aquele menino com sua parca alimentação. Jesus agradece ao Pai e após a partilha todos comem fartamente. O milagre não está na quantidade dos recursos, mas na nossa confiança em entregar ao Senhor o pouco que temos. Numa sentença: O milagre está na partilha!
Com a redução da força bélica, Deus queria ensinar uma lição ao seu povo, a saber: QUANTO MENORES FOSSEM OS RECURSOS, MAIOR SERIA A EXPRESSÃO DO PODER DELE. Quanto maior for a escassez dos nossos recursos, tanto maior será a manifestação gloriosa da providência divina. Conforme, o terapeuta Jean Yves Leloup: “a maior vitória de um homem é deixar-se ser vencido por Deus”.
3. A tensão entre crer e duvidar
Se olharmos atentamente para a história de Gideão perceberemos que ele se caracteriza como um ser de fortes ambigüidades. Ora crê, ora duvida. Ora está cheio de coragem, ora está possuído pelo medo. Por isso sempre pede sinais a Deus.
Nesta perspectiva, as palavras de Ricardo Gondim são alentadoras: “minha fé não nasceu de certezas, mas de dúvidas. Só quem não consegue provar necessita crer. Sei sobre o imponderado divino por um tênue testemunho do meu coração (…) reconheço a fragilidade da minha fé que só ouve o inaudível, só percebe o imperceptível, e só toca o intangível. Quando afirmo que não sei, meu coração aposta no que verdadeiramente nada sabe (…). Sou um homem de fé; eis a razão de tanta insegurança”.
Segundo Paul Tillich, fé é estar possuído por aquilo que nos toca incondicionalmente. No entanto, todo ato de fé vem acompanhado de dúvida, pois o infinito é experimentado por um ser finito. Fé e dúvida não são antagônicas. Fé não é vida de certezas. Fé é vida de coragem!
Em algumas versões do versículo 1 do capítulo 11 da carta aos hebreus, encontramos a seguinte tradução: “a fé é a certeza das coisas que se esperam (…)”. Há um erro nesta tradução. A palavra grega que aparece traduzida como certeza é hipóstases, que significa natureza substancial, realidade ou essência. A fé, portanto, é a natureza substancial de tudo o que se espera, e não uma bússola de certezas.
Na sua obra “Os irmãos Karamazov”, Dostoiévski tece um comentário sobre a experiência de dúvida e fé do discípulo Tomé com o Cristo ressurreto, diz ele: “O apóstolo Tomé declarou que não acreditaria antes que visse, e depois disse: ’Meu Senhor e Meu Deus!’ Seria o milagre o que o obrigara a crer? Provavelmente não. Ele adquiriu essa fé simplesmente porque a desejava e é possível que, bem no intimo, já fosse um crente, mesmo quando afirmou:’Não acreditarei enquanto não vir’”.
A semelhança de Tomé, após o salto da dúvida para fé, Gideão adorou. Tomé precisava tocar nas chagas do Cristo, Gideão precisava de mais um sinal, e este veio em forma de sonho. O Sonho é uma linguagem do inconsciente. Foi necessário que o inconsciente dos inimigos trabalhasse, para que a consciência de que Deus estava com Gideão fosse despertada. A nossa dúvida deve ser o prelúdio de uma experiência de fé que nos conduza a um relacionamento de confiança no Deus vivo.

4. Humildade, coragem e dedicação: elementos necessários para os enfrentamentos da vida.

Gideão e seus trezentos homens foram humildes, corajosos e dedicados.
Humildade na bíblia não é um eufemismo para pobre, mas se refere a nossa postura diante de Deus, dos outros e de nós mesmos. Gideão foi humilde ao aceitar o pedido aparentemente insano de Deus. Gideão e seus homens romperam com a camisa de força da razão, da lógica das estratégias bélicas e abraçaram humildemente a instrução ilógica de Deus.
O senhor disse: “quem for medroso e tímido que volte”. Quem vive tomado pela ignorância do medo e desespero jamais irá avançar. A coragem de Gideão e seus homens estava alicerçada sobre um inabalável fundamento: a promessa da companhia divina (“Eu serei contigo”). Se Deus é conosco não precisamos temer!
No vestibular feito por Deus às margens das águas, o que pesou foi a dedicação. Os 300 homens que foram selecionados estavam atentos, pois a guerra era eminente e o ataque dos inimigos poderia vir inesperadamente. O sucesso está mais para a dedicação do que para o talento. Nas palavras de Bernardinho, técnico da seleção masculina de vôlei: “Sucesso é 1% de inspiração e 99% de transpiração”.
O meu desejo e esperança é que estas considerações se transformem em palavra encarnada. Os meus votos é que neste novo ano a nossa igreja cresça em discernimento espiritual. A Deus toda glória!

Nenhum comentário:

Postar um comentário